sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sobre amor e outras dores

Ontem estava lendo um dos meus escritores preferidos, Fabrício Carpinejar, e fiquei imaginando razões para que hora ou outra, nos esquecemos de ir atrás das coisas que gostamos. Fazia meses que não visitava o blog empoeirado de sangue pulsando que Fabrício expõe. Cru. Visível. Sem espaços vazios. Logo de cara, veio o trecho:

"Amor é jamais anular a possibilidade do outro de errar. Mesmo que custe mágoa, dor, ódio. 


É se oferecer inteiro, podendo ser enganado a qualquer momento. É se doar inteiro, permitindo que nossa companhia demonstre, dia a dia, quem ela é.

Só se valoriza a escolha pelo tamanho da renúncia.

Só há intimidade com liberdade dentro.


Só o amor ingênuo é verdadeiro."

Ficou passando pela minha cabeça o quão simples foi para ele para cuspir essas palavras. Nada ali é aquém ao que é jogado na cara das pessoas todos os dias. E mesmo assim, insistem em acreditar no contrário ao que é dito acima. Creio que a maioria das pessoas renunciam à si mesmo quando jogam uma oportunidade de ser feliz fora. É a paciência das pessoas que se esvai. Hoje em dia é mais fácil trocar uma paixão por outra. Sem perguntar se todas as palavras agressivas, foram por medo. Ninguém no mundo sabe mais lidar com amores intensos, e os amores intensos, são as melhores experiências da vida. E as mais cruéis.


Engraçado é que ao mesmo tempo que se ama um autor, escritor, ou poeta, pode também discordar demasiadamente. Sem interferir na sua admiração. Ocorre isso diversas vezes com minha postura ao ler textos sexuais do Bukowski, por exemplo. Só que ainda falando de Carpinejar, que foi o motivo de começar toda essa análise em uma tarde chuvosa de sexta, é que ele possui opiniões generalizadas. Tais como:


"Ex é passado. Não precisa de nenhum ex. Se precisasse, ainda estaria com ele.

Ex não pode ser amigo. Nem melhor amigo. Nem confidente. Só se ele mudou de sexo."

Não, Fabrício! Não! Ex é sim passado, mas há de se precisar de alguém que fez parte da sua vida, vez ou outra. É o que há de mais bonito. Para recolher dores, fantasiar medos, ter um colo que já foi seu antes, mas que não é nada mais além do que isso. Um colo. Se o coração ainda pulsa, se não conseguimos ter um ex como amigo, recebe-lo com um sorriso, ah, não é ex... Ainda é desejo. Já recorri à vários ex's ao passar da minha vida. Seja para lamentos, seja para perguntar se a vida anda bem, seja para comentar sobre uma música antiga que era a trilha sonora, mas hoje só é isso, uma música antiga. Ter passado é bom, significa que algo valeu a pena. E amores, não podem ser tratados como escória.  Talvez Carpinejar pense como Chico, "Amores serão sempre amáveis, futuros amantes, quiçá." E veja só, que sofrimento há nisso?

O que mais agrada nos textos de Carpinejar, talvez seja o tapa na cara que é desferido. A discordância de opinião com o resto do mundo. E quem diz que o tempo resolve tudo, bem, talvez devesse mudar de opinião.

"Não deixo o tempo perdoar em meu lugar. Não darei a ele os créditos de minhas dores.
 tempo organiza, mas não define.
O tempo esfria, mas não cura.
O tempo estanca a hemorragia, mas não cicatriza.
O tempo elimina a carência, mas apaga o desejo.
O tempo acalma, mas não garante o entendimento.
O tempo adia as dúvidas, mas não consolida as certezas.
O tempo finge que avançamos, mas não saímos do lugar.
O tempo serve para diminuirmos a importância das ofensas, mas não resgata os elogios que não serão feitos."

http://carpinejar.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário