domingo, 5 de fevereiro de 2012

O colecionador de amores



Ser adulto é um pouco como ser criança. Joga no amor como se fosse uma brincadeira de pátio no primário. Ganha um álbum de figurinhas que ninguém tem, e logo o colega quer ter um igual. Quando se dá conta, todo o colégio está contaminado pela febre de quem completa o álbum primeiro. Quem será feliz primeiro?

Gasta dinheiro, tempo e paciência para completar cada espaço vazio do peito, ou da página que falta a figurinha número 34. Quase uma chave do coração. Compra vários pacotinhos na revistaria da esquina, aquela onde tem o sorveteiro que vende o picolé de groselha mais gostoso da cidade, ou compra flores, onde todo dia às 18:05 aparece os olhos mais aguardados do dia.

Criança também se decepciona, consegue quebrar a cara. Rasga com tanta vontade o embrulho de sua felicidade e para sua surpresa: Já tem mil figurinhas daquela espalhadas pelo quarto, janela e carro dos pais. Não da pra esconder uma decepção de criança.

Adulto esconde. Acredita que a menina que trabalha ao seu lado tem o sorriso mais belo da cidade, e é pra isso que ele sai todo dia de sua casa para encarar a rotina. Mas continua saindo com aquela à quem não se gosta, não se pertence. Ser grande é aprender a colecionar a figurinha repetida, não da pra completar álbum, isso é coisa de vagabundo. Então nem compra mais. Só tem isso? Então me contento com o que tem. Não da pra ser feliz só se contentando, mas os adultos não sabem disso.

Um dia por querer, um colega da escola joga a figurinha número 34 no chão, meio rasgada, velha e faltando cola. "Já não serve para nada." O menino corre, fica com medo que alguém veja e sorri segurando a figurinha apertada entre os dedos. Volta o mais rápido que pode e abre o álbum e seu estojo com sua cola bastão. É o dia mais feliz de sua vida e não precisou sequer ir à banca se sujar de picolé para ter isso. Simplesmente aconteceu.

Aquela figurinha. Do seu  Pokémon preferido, time de futebol ou banda, não importa. Ele não precisa completar o álbum, as outras crianças correm para trocar suas figurinhas e gastar o dinheiro dos adultos nas bancas. Sempre tem a criança que não completa o álbum, e não é porque ele se contenta como os adultos. A felicidade chega quando acha a melhor figurinha do álbum, mesmo que todos naquele lugar a joguem no lixo.

Mas é que sempre tem alguém, por mais adulto ou criança que seja, que sabe que não se brinca com o amor... ou com um álbum de figurinhas. 

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