quinta-feira, 28 de maio de 2015

Eu te detesto





Te vi entrar no altar sem pensar em impedir o casamento. Tudo já foi decidido antes no cartório, pensei. Só o que se passava na minha cabeça era que talvez aquele fosse o momento de jogar o pó de café fora, e comprar novos sachês de chá. O pó até vencido estava, mas não custava guardar. Logo pensei em comprar uma cama menor, meu gato havia se acostumado a dormir sempre do seu lado, e agora não encosta mais em mim pelas noites. Cansei de abraçar o travesseiro, quero ao menos meu gato de volta.

Detesto. Detesto sua mania de ir embora antes de chegar a sobremesa no restaurante, e detesto seu jeito de pedir com que eu aguente ficar mais algumas horas dançando sem me sentar. Detesto tudo que faz, e tudo que me impediu que pudesse fazer por nós. Seu jeito de controlar os sentimentos dos outros apenas com sua superioridade intacta e suas palavras mesquinhas.

Detesto você.

Agora não é mais problema meu, disse aliviado enquanto chutava uma tampinha de cerveja jogada na porta da igreja. Quem diria que amor se acaba com o tédio. Rouquidão do peito. E, por Deus, existe antibiótico para decisão alheia?

A vida não é um longa onde após me sentar no banco da praça, chegaria uma mensagem dizendo que talvez fosse uma escolha errada, e que não viajaria para a lua-de-mel. Chegou mensagem sim, mas de alguém chamando para beber em um bar qualquer. Bebida não resolve nada, ainda mais pra quem se ilude com a ideia de que perdeu tudo.

Já falei que detesto tudo que faz?

A indiferença é o menor dos problemas, o que está errado é você sentir falta de outro sorriso enquanto é o meu que se perdeu. Transfusão de amor nos dias atuais parece não ser tão caro de fazer, quem sabe não dê entrada na minha.


A verdade é que apesar de todas as coisas boas ainda rodearem minhas mãos, pernas e pescoço. não é mentira quando digo que te detesto. Não senti nada ao te ver entrando no altar vestida com um sorriso amargo de quem não tem pendências deixadas para trás. Não doeu nenhum pouco abrir a lata do lixo e jogar fora os desenhos que me fez e a sujeira que me deixou. Não há dor. Não há você.

De coração fechado, digo que talvez não houve despedidas pois você já havia se despedido quando beijava minha boca e dizia que me amava olhando para baixo. Detesto saber que tomou uma decisão por nós dois.

E sabe de uma coisa?

É um alívio saber que foi com ele que subiu ao altar, já que descobri que detesto tanto você.

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