Vamos lá. São só alguns passos do elevador até o supermercado. Nunca foi tão difícil fazer compras em uma cidade grande. Antes mesmo de abrir o portão para sair do prédio me deparo com pessoas cuspindo nas ruas, carros buzinando e cachorros lambendo o lixo. Coisas que antes não precisava enxergar, pois o caminho era mais fácil quando tinha alguém para amenizar a sujeira do mundo.
Preciso de algo para pensar enquanto sigo o nosso caminho no chão. Vou programando a lista de compras como se não tivesse anotado no papel amassado no bolso. Por um instante me arrependo de não ter ido pela outra rua, o caminho seria mais longo, mas pelo menos não teria de me distrair.
Lembro que o cigarro está no bolso e paro aliviado procurando o isqueiro. Qualquer solidão é menor com um cigarro nas mãos. Acendo e olho pro céu como um agradecimento por não ter que ir tão sozinho pela avenida. O cigarro mata, mas também alivia. Passo pelo pit dog que sempre toca música aos sábados. Hoje é sábado. Sinto que a música faz parte de uma trilha sonora onde minha vida é a protagonista. A música era alegre demais, apresso meus passos para não lembrar que este mesmo percurso também já foi mais feliz.
Percebo uma menina atravessando a praça. Seus olhos sorriem e por um instante penso em pedir alguma informação mentirosa e treinar meu jeito de ser sociável novamente com mulheres. Começo a andar mais devagar, no mesmo instante em que o telefone da menina toca e um sorriso em seus lábios se abre. O jeito é apressar os passos. Talvez ela tenha namorado. - pensei - Ninguém nesse mundo é sozinho.
O supermercado está na outra esquina. Suspiro aliviado que tenha sobrevivido a minha primeira ida ao supermercado sem desabar em lágrimas. Entro e já não sei mais o que fazer. Quando íamos sempre procurávamos primeiro as bebidas, e depois a janta do final de semana inteiro. Percebo um atendente carregando laranjas em um carrinho e quase penso em pedir ajuda.
"- O que eu faço, cara?"
Talvez um supermercado não seja um bom lugar para um homem solteiro.
Retiro a lista do bolso e pego um carrinho qualquer jogado pelos cantos. Passo pela geleia de vinte e três reais que ela adorava comer com torradas pela manhã.
- Geleia italiana é a única coisa que me faz sorrir quando acordo.
É o que ela dizia. Para mim tinha mais gosto de morangos mofados misturado com gelatina. Coloco a geleia no carrinho e saio em busca das torradas. Nunca sabemos quando alguém vai voltar. O carrinho está cheio e só falta comprar algo para beber. Outro suspiro fundo.
Vinho. Ela adorava vinho tinto suave. Seco, jamais. Passávamos horas discutindo qual o melhor vinho e sempre levávamos o mesmo. Será que nossa rotina que a fez enjoar? Peguei o mesmo vinho de sempre e um pouco de comida japonesa do quiosque. Hora de ir embora. Alguma hora a gente tem que ir embora.
Paguei a conta com meu cartão de crédito, recolhi as sacolas e me senti mal por não ter ido de carro.
E agora, como irei acender outro cigarro?
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