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Oito horas e dois minutos. Pontualidade britânica se não fossem os dois minutos em que ficou dentro do táxi esperando a máquina do cartão finalmente passar. Desço e espero com um sorriso de lado, sorrisos assim te irritam, mas é melhor do que mostrar os dentes. Abro todas as portas da minha casa e falo para esperar no sofá enquanto vou mexer em alguma coisa na cozinha. Nunca mexo em nada.
Volto e lá está, olhando para o mesmo quadro que sempre encara quando te faço esperar. Tento fazer alguma piada, perguntar alguma coisa, mas sempre é como se tudo estivesse bem. Nunca sei se realmente está, mas olho pra baixo e finjo estar com fome, só assim concordamos em algo e nos olhamos dentro dos olhos.
Conseguimos ficar em silêncio a maior parte do tempo sem nos sentir desconfortáveis, mas sempre estamos. Reparo que o seu cabelo está preso com uma presilha diferente e sua unha com o esmalte descascando. Não tem muito assunto, sempre a mesma coisa, sempre a mesma certeza de que não precisa dizer muito pra se sentir bem.
Meu telefone toca.
A voz do outro lado diz que acordou querendo me ver, mas digo que estou com uma amiga assistindo filmes e semana que vem a gente marca alguma coisa. Desligo o telefone e já não lembro quem era. Volto a encarar a presilha presa em seu cabelo bagunçado e acho aquilo a coisa mais linda do mundo, mas não digo.
Ela diz que pareço um homem de lata, fingindo ser de aço mas no fundo só quer ter atenção e um coração. Eu digo que ela é um leão covarde que pretende ser o dono da selva, mas na hora não tem força pra aguentar a pressão. Brigamos a noite inteira por causa de uma comparação boba com o filme "O mágico de Oz", e quando parece que finalmente um vai ignorar para sempre a outro, aparece um sorriso aberto e um empurrão que deveria ser um abraço.
Sempre dormirmos na metade dos nossos planos. Nunca assistimos todos os filmes, ou comemos todas as comidas que pedimos. A gente tenta não dormir, mas sempre cochila nos intervalos. É a hora que se levanta e vai embora. Chama o táxi, despede e agradece sabe-se lá pelo quê.
Ela entra no táxi e meu sorriso de canto vira um sorriso entre dentes, mas ninguém vê.
Finalmente o homem de lata ganhou um coração.
E é uma ironia ela não saber... que é todo dela.
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