domingo, 21 de abril de 2013

Máquina de pensar



Teve um tempo em que vivia de poesia. Hoje não sei mais poetizar.
Não existe tristeza maior para um poeta do que não saber o que escrever.

É só vazio da mente. Coração sempre esteve vazio, ora essa.
Não saber para onde viajar pelas linhas enrijecidas do cérebro. Não há mulher que preencha esse jovem velho que anda por aí sem consultar o relógio. Não há sentimento de mulher que me faça querer tirar o pijama, passar um perfume e tirar minha bicicleta da garagem.

Tenho um emprego meia boca que da pra sustentar meu vício de chocolate aos fins de semana. Minha bicicleta é lavada todo mês e troquei as rodas dela semana passada, agora são de aço. Não preciso de muita coisa, só de um pouco de poesia.

O tempo anda ruim para quem vive de pensar. Não há muito o que se pensar e as pessoas estão começando a me passar um tédio desconfortável. Meu mau humor está tomando conta até mesmo da minha cozinha. Veja só, o tanto de louça para lavar. Talvez eu também precise de um banho, mas não vou me levantar desse sofá, é sábado.

Meu telefone toca pelo menos cinco vezes a cada hora, ainda bem que existe o modo silencioso. Podia existir isso fora de aparelhos eletrônicos, como, por exemplo,  nas pessoas. Elas falam muito e eu gosto apenas de ler. Deve ser por isso que escrevo, não preciso ouvir minha voz nessas letras miúdas de computador.

Gostaria de ter uma máquina de escrever, mas teria que parar de comer chocolate aos finais de semana e economizar para ir até um antiquário. Onde já se viu, uma coisa tão antiga, e tão cara. Pensei em quebrar meu cofrinho mas descobri que não tenho jeito para quebrar as coisas. Provavelmente vou tentar colar novamente, não sei deixar nada aos pedaços, é difícil ficar olhando para aquilo depois.

Deve ser por isso que nunca me olho no espelho.


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