segunda-feira, 18 de junho de 2012

De todas as coisas que não foram



Quando exatamente comecei a gostar dela?

Acho que foi quando ela disse que nós não iriamos dar certo. Ora essa, não dar certo, isso é coisa que uma menina diga para um homem como eu?

Nesse momento dei meu sorriso malandro que todas as outras dizem que tenho e passei a mão pelo cabelo recém aparado. Sou bom em fingir não dar importância. Era uma tarde de domingo e estávamos sentados embaixo de uma árvore qualquer do parque. Naquele momento eu quis que a árvore caísse em minha cabeça e me enterrasse vivo pra não ver ela partir.

Sei que nunca disse que todas as vezes que a via era um dia feliz. Devia ter dito, não é?

Ah... eu sei.

Nunca fui desses caras românticos que ligam no outro dia ou aparecem sem avisar no trabalho. Nunca levei flores pra uma menina, mas pra ela eu levava meu coração todos os dias.
A gente conversava de tudo, sabe? Música, sexo, livros e horóscopo diário. Era quase uma projeção em miniatura de mim. Eu disse quase.
Sou egoísta. Tenho meus planos solitários que só funcionam solitariamente. Quero viajar pra uma cidade histórica só pra experimentar as comidas, montar uma biblioteca em casa e passar um ano trancafiado lendo histórias que nunca irei viver, transar com uma menina num bar irlandês e fumar um cigarro enquanto ela recupera o fôlego.
Minha meta de vida é viver bem até cinquenta anos e com cinquenta e um casar com a mulher dos meus sonhos e fazer filhos para não morrer velho e sozinho. Se eu não envelhecesse, não iria casar.
Só que ela apareceu. Apareceu com mil sonhos iguais aos meus e controlando meu idealismo babaca. Porra, a gente dá certo em tudo e ela vem me dizer que não damos certo em nada.
Essa mania que as mulheres têm de querer sempre procurar algo novo que possa mudar a vida delas pra melhor, e quando não acham, voltam feito um gato pedindo chamego antes de tirar uma soneca.
Mulher acha tudo fácil. Que é o sexo dominador e podem fazer de qualquer homem o dominado. Pedi arrego.
Quero ver se vai encontrar alguém que faça a comida preferida dela ás 3 da madrugada. Ou que escute seus discos de jazz e ópera que estavam guardados na gaveta á anos. Por ela eu casava com quarenta e nove anos.

Quando eu percebi que é amor?

Veja bem, eu não a amo. Só sinto falta do seu sorriso umas nove vezes ao dia. Acho que não da pra chamar de amor se ela não continuou do meu lado. Não, não me olhe assim. Eu converso muito, adoro conversar, ainda mais quando é sobre essa menina, mas não da pra fantasiar as coisas assim. Desculpa se dei a entender que era amor.
Um dia eu fui embora da vida dela também, sabia? É, rapaz. A nossa história é muito grande e sem sentido algum.
Tava feliz sem ela, e descobri que podia viver assim. Sem mandar duas mensagens ao dia com "Como você ta?" e "Dorme bem". Essas duas mensagens definiam o que eu sentia por ela: Preocupação e carinho. Tem coisa mais bonita do que perguntar como uma pessoa esta e realmente querer saber? Era muito bonito o que eu sentia, mas jurei não sentir nunca mais.
Quando eu fui embora da vida dela, descobri que tudo desandou do lado de lá. Foi quando eu parei de mandar "Dorme bem". Sabia que isso não aconteceria por muito tempo, sabe?
Então eu voltei depois de uns meses e tudo tava diferente.

 Acho que foi assim que eu comecei a gostar dela. Quando ela falou que não iríamos dar certo. Pra um homem como eu, "não dar certo" é o melhor que eu posso ter de uma garota.

Ainda mais quando a gente sabe que isso é só mais uma mentira.



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