domingo, 15 de março de 2015

Hoje, a partir, de

A partir de hoje, começarei à tomar café no sofá, sem fumaça de cigarro em meus cabelos. A partir de hoje, jogarei meu salto em um canto qualquer, limparei a maquiagem do rosto e não pensarei em usar tão cedo. Falarei que estou cansada e fecharei todas as portas da minha casa, do meu quarto, de mim. A partir de hoje, não ouço mais músicas tristes. Não ouço mais músicas felizes. Não quero fingir ser alegre, e não quero lembrar tanto sobre a tristeza. A partir de hoje, não irei engolir meus remédios com gosto de lágrimas. Não irei responder mensagens, tampouco, criá-las. Quero que passe longe de mim convites, cobranças, coração. 

A partir de hoje, não irei mais fazer comida, enlatados serão meu prato preferido. Meus gatos vão me ter vinte e duas horas por dia e meu cabelo vai crescer até as costas, pois não verei o tempo passar. A partir de hoje, vou ler todos os meus livros, estudar todas as apostilas, e entender quaisquer filmes. Não vou ter beijos em minha boca, mãos em minha pele ou peito colado no peito. Mandarei embora qualquer forma de possibilidade de amor. 

Não atenderei telefonemas, a partir de hoje. Não direi que estou com saudades ou que preciso ver alguém. Mandarei cobrir todas as minhas janelas com cortina preta e comprarei um novo cobertor. A partir de hoje, não mostro para ninguém os melhores restaurantes, não levo aos melhores lugares, ou planejo viajar para longe. A partir de hoje, mandarei as cartas feitas no computador para à lixeira e as escritas para o fundo do armário. Não aceitarei convites de festas, bares e filme em casa. Serei somente só, a partir de hoje.


A partir de hoje, não irei mais chorar, bem menos rir, mas ao menos, irei esquecer. 



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